sábado, 25 de agosto de 2012

ESTAMPADO NA PELE

Foto - Mario Cravo Neto
Entre o arrependimento e a certeza, sempre preferiu o risco. Olhou no fundo do copo para encontrá-la. Encheu a boca para sentir seu gosto mas só o álcool forte falou na língua. Tinha gosto de barato. Queria matar com veneno de bar derramado em dosadores de mil gotas o que restou dela em seu corpo.

Ela tinha estampado letras na história dele como unhas na carne. Marcas com desenho permanente de uma noite de raiva. Tatuagem. Saudade a gente só tem do que é bom.

Hoje estavam livres do sorriso de todas as promessas eternas que haviam deixado de cumprir. Espalharam pelo mundo e pelo rosto. Desperdiçaram. Pouparam-se para aproveitar mais tarde.

Música, fumaça e álcool. Combinação perfeita para lembrar e deslembrar dos dois. Continuava esperando no tempo se escondendo dele mesmo entre os rins dela. Agonia. Aflição. Angústia. Falta de ar na garganta até voltar a respirar sorrindo o arrepio na espinha. Cicatriz. As conversas do silêncio do toque recriavam o gemido dos dois.

Queria acreditar sem se mover, mas precisava fechar os olhos. Ouvir noite com letras sussurrando palavras, derramando histórias. Assistia seu nervosismo no espelho na hora de dizer boa noite em cinco lágrimas do vidro. Queria se acalmar dele mesmo para poder encontrar os olhos dela no sono que não dormia mais.

7 comentários:

  1. A saudade é teimosa e dolorida. Amei! Um abraço querido.

    ResponderExcluir
  2. Lindo texto! A difícil arte de acalmar a nós mesmos!
    Bjo

    ResponderExcluir
  3. Lindíssimo. História muito bem "derramada".

    ResponderExcluir
  4. Gosto do silêncio que a ausência provoca.

    ResponderExcluir
  5. Me fez lembrar de uma música...Painted on my heart, do Cult.
    Belo texto poeta!

    beijos borboléticos!

    ResponderExcluir
  6. Maravilha de texto, querido! Tocou fundo a minha alma...

    Beijos e parabéns pela sensibilidade!

    ResponderExcluir